domingo, 13 de março de 2011

A quem interessar possa.

"Vende-se um coração."
Estou cansado de sentir, muitas vezes abri mão de minhas prioridades por amor, e cansei disso. E aí enrolava-se, dizendo que talvez quisesse, afinal, toda essa complicação e respirava e não sabia se explicar. Mas quem sabe dessas coisas, não é mesmo?
"Vende-se um coração."
Escreveram na parede da minha rua e eu pensei em comprá-lo. Pois é, queria lembrar como era ter um coração meu, sem que batesse com o de outro alguém ou que simplesmente não pulsasse mais. Era possível que a pessoa que o vendia estivesse certa? Quer dizer, sentir podia ser, afinal, complicado. Mas eu me lembrava do fascínio, ainda que de longe.
"Vende-se um coração."
E decidi procurar o dono. O anúncio mal feito não tinha telefone para contato, nem nada que me fizesse encontrar quem o escreveu. Comecei a pensar que fosse, então, pegadinha. E considerei todas as pessoas que conhecia que poderiam não ter mais um coração.
"Vende-se um coração."
Lembrei-me então dele. Não foi dificil encontrá-lo, mas era ele e eu tinha certeza disso agora. As letras tortas e arredondadas na parede não mentiam para mim. Na verdade, complicado foi ir até lá e dizer que queria comprá-lo, para vê-lo estendendo não só o coração dele, mas também o meu em suas mãos. E sorria, como se esperasse só por mim, desde que havíamos partido...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Reflexão

As vezes eu me pergunto porque tanta coisa muda tão de repente... E quando acontece, não há nada que possamos fazer a não ser assistir as mudanças e nos adaptar a elas. É estranho, mas não temos mesmo controle nenhum sobre nossas vidas... Bem, eu pelo menos não tenho pela minha. E quando caio, sempre espero que alguém venha me salvar, me ajudar a levantar...
Estranho é quando não é quem esperávamos que nos encanta e se aproxima, sem se justificar, talvez pela milésima vez, mas parecendo ser a primeira. Pra nos lembrar que, mesmo que muito mude, sempre haverá alguém ali, pra nos abraçar e dizer que tudo vai ficar bem.
Quem sabe o segredo é não esperar nada então, não ter grandes expectativas e sonhos e ser sempre surpreendida... Porque é o que mais tem acontecido comigo e deixe-me lhe contar: é fascinante ser pega de surpresa.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Pular de um abismo, o amor.

Uma vez me falaram algo sobre o quanto era verdade que em certo momento da nossa vida, tudo que queremos é alguém pra passar as tardes de domingo ou as noites de algum dia da semana ou qualquer dia desses em que não temos nada pra fazer porque sabemos que queríamos ter aquela pessoa ao nosso lado.
Quando ouvi isso, sabia que era verdade o que me falavam, já tinha sentido isso uma ou duas vezes na vida por alguém. Claro que nunca tinha planejado que acontecesse, quer dizer, essa vontade de estar com só uma pessoa o tempo todo. Isso pode trazer muita dor, na verdade isso é quase uma regra, sabe, doer. E ai sempre que termina, prometemos que não vamos repetir o feito, que vamos viver sem amar ninguém. Bobagem. "É impossível ser feliz sozinho", e como é... Ainda assim juramos que nunca mais amaremos de novo, só por jurar assim, pra tirar o peso da consciência. Mas a verdade é que, por mais que tentemos fugir, todos fomos feitos pra viver de amor, ser amor, de amor.
E aí tem sempre uma hora em que decidimos arriscar - ou não decidimos, na maior parte das vezes. Quando vemos estamos lá, de novo, a ponto de pular de um abismo sem saber se alguém vai nos segurar lá em baixo. Temos medo, frio na barriga, mas o coração acelera e perdemos a respiração com a ideia de sermos segurados, no lugar de atingir o chão.
A verdade é que eu queria ser abraçada quando tudo parece que está errado, queria ter alguém olhando pra mim com olhos apaixonados, queria alguém pra me carregar e me salvar quando fosse necessário. E acho que mesmo que tenha meu coração quebrado mil e uma vezes, insistiria em pular novamente porque, deixe-me lhe contar um segredo, o encantamento de ser segurada e só a viagem até lá, o número de incertezas recompensadas caso aconteça, cobrem qualquer uma das vezes em que isso não ocorreu...
E talvez esteja aí o segredo da simplicidade complexa que é a vida. Porque todos somos amor, não importa o quanto queiramos fugir disso.

terça-feira, 8 de março de 2011

Sobre alguma linearidade não linear

Chega um momento em nossas vidas em que uma escolha pode mudar tudo. Sem hipérboles, literalmente, pode modificar seu destino, assim, de repente. E muitas vezes nem percebemos que isso vai acontecer. Estamos sempre na iminência de mudar tudo ao nosso redor, pra ser sincera, é mesmo por aí. Como se cada uma de nossas opções nos encaminhasse para algo mais distante - ou próximo - do que queríamos que fosse.
Mas aí está a magia de tudo. Apesar de não controlar a ordem das coisas ou o porquê de nossas escolhas, muitas vezes, aquelas que achavamos ser erradas, resolvem tantos problemas, deixam tantas situações claras, que devemos a elas a continuidade de nossa história. Vejam bem, não que isso já tenha acontecido comigo, pelo menos não a longo prazo... Sempre quando não escolho com calma, pode até ser que tudo pareça ir pro lugar, mas a bagunça volta - e isso é quase uma regra - pra me mostrar que apressar as coisas nunca é a melhor opção.
Eu sei que na maior parte do tempo ninguém faz sentido, assim, literal, pra ninguém, mas é preciso prestar atenção nos detalhes... Todos queríamos ter mudado pelo menos metade das escolhas que fizemos durante a vida, mas não é possível...
A verdade é que só depois que pulamos do abismo, percebemos se somos capazes de voar ou se estamos indo direto ao chão. E embora tudo seja sempre confuso, nunca nos dão a opção de parar no mesmo lugar, é sempre essa história de seguir em frente, não importa o que aconteça... O que ninguém jamais me perguntou foi se eu já estava suficientemente feliz com o que tinha, se eu não queria parar de escolher e opinar e andar, por um instante, para olhar o céu e só ficar ali, parada, desejando que nenhuma mudança acontecesse por algum tempo...
Para que, então, fosse possível que ninguém se machucasse, só pra variar um pouco. Porque no final das contas, apesar de tudo que dizem, tomar rumos e viver não é tão facil quanto parece e talvez fosse mesmo uma boa ideia tirar férias de nós mesmos...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Às palavras, com amor.

Quando era pequena, lá pelos meus cinco anos, haviam momentos em que eu queria fugir. Pra parar de chorar, de sorrir, pra fazer o que eu quisesse fazer. Mais ou menos como ser "dona do meu nariz". Era como se eu gostasse demais de ficar sozinha, comigo mesma. Então talvez não fossem férias de mim, mas de tudo que me obrigava a deixar de ser eu, aos poucos. E de alguma forma eu sabia que com o passar do tempo eu teria que tirar férias de mim muitas vezes mais do que naqueles momentos onde já tentava não fazer isso.
Mas eu não sabia como fugir. Quer dizer, no auge dos meus cinco anos, eu fechava os olhos e imaginava estar longe dali, mas parecia que se houvesse a possibilidade de esquecer o quão bom era escapar, assim, nos finais de tarde, dentro da minha casa, eu poderia, então, esquecer também como fazê-lo.
Foi quando eu conheci as palavras... O único "lugar" onde posso ser eu mesma em excesso, me transbordar de uma forma que nem eu mesma saberia ser possível, não fosse por elas.
Eu nunca fui uma criança normal, devo dizer, por isso me encantei por prosas simples já naqueles tempos. Eu podia, finalmente, olhar para o meu reflexo e escrever no espelho como ele parecia estranho naquele dia em especial e depois ter o espelho pra lembrar de como me achava estranha todos os dias.
Não sei se dessa forma me faço entender, mas escrever sempre foi, pra mim, uma forma de escapar do inescapável e ainda assim fazer a viagem parecer real, plausível, inesquecível.
Dentro de minhas letras eu podia amar o quanto queria, gritar o que fosse desejado, voar se fosse preciso, chorar em silêncio, eu podia só... Ser eu em essência.
Por isso preciso dizer: devo às palavras ter me mantido em meu mundo paralelo, complexo, "O fantástico mundo de Bella", como uma vez insistiram em chamar.